Pense-se o que se pensar do Sheikh Ahmed Yassin, o seu recente assassínio é um acto vil e repugnante.
O que leva uma nação a assassinar com mísseis um homem cego e paralítico desde os 12 anos, em lugar de o prender e julgar pelos seus crimes, quaisquer que sejam, como é mais do que óbvio que esteve sempre ao seu alcance? A resposta inescapável é que este é um acto não de "legítima defesa", como afirmou o governo americano, mas sim de vingança e de humilhação deliberada de um povo.
Com este crime de estado, o governo israelita promoveu o Sheikh Ahmed Yassin de terrorista e criminoso a símbolo de um povo impotente e sequestrado, que quanto mais humilhado é, mais raivoso e irracional se torna. Este acto não pode ser visto senão como uma provocação destinada a pôr em pé de guerra toda uma região, e "legitimar" mais medidas de opressão de um povo e supressão de uma nação.
Israel deixou de ser um estado de direito, e aparece de forma cada vez mais clara como um estado racista e violento. No entanto, Israel é um estado democrático, e ao contrário do que podem alegar as vítimas de ditaduras, a responsabilidade pelos actos continuados dos seus governos pertence aos seus cidadãos. Duvido que a história futura venha a permitir aos cidadãos de Israel olhar para este período da sua história com sentimentos que não sejam de vergonha e tristeza.
Os centros de recrutamento da Al-Qaeda não devem ter mãos a medir.
Já para não dizer que nestes últimos quase 50 anos de existência do Estado de Israel, certos israelitas estão a fazer muita gente pensar se Hitler não teria razão.
Não que seja a minha opinião, claro, mas que já li coisas nesse sentido (onde se incluem listas de atrocidades cometidas pelos Israelitas - atentados, genocídio, utilização de armas químicas, etc, etc) e que não deixam de fazer pensar nos dois pesos e duas medidas de certas nações ao condenar os diversos "terrorismos" deste nosso planeta.
Na revista deste mês da "Cidade Nova" vem um artigo muito interesante sobre "As guerras esquecidas".
Posted by: Lopo | 2004.03.24 at 17:33
É preciso cuidado com as comparações: o Holocausto de Hitler tirou a vida a 11 milhões de pessoas, das quais 6 milhões eram judeus, enquanto que a ocupação da Palestina pelos judeus que fundaram Israel resultou na expulsão das suas terras de 600 000 a 800 000 palestinianos. O número de mortos não tem qualquer comparação com o que ocorreu no Holocausto, mesmo em percentagem da população original. O Holocausto foi um processo de genocídio, enquanto que a ocupação israelita da Palestina constitui um processo de limpeza étnica.
Não consegui encontrar dados relativos ao total de mortos, mas o 20th Century Atlas - Death Tolls fornece os seguintes dados:
1936-39: ~5200 palestinianos mortos
1945-48: 347 mortos
O sítio da Cruz Vermelha Palestiniana cobre a segunda Intifada e relata ~3000 mortos e ~25000 feridos desde Setembro de 2000.
Nestas discussões gosto sempre de distinguir entre judeus e israelitas. Muitos judeus vivem fora de Israel, e um bom número destes não se revê minimamente na ocupação israelita. Inversamente, nem todos os israelistas apoiam a ocupação, ou são sequer judeus. Muitos dos que defendem que este é um conflito entre religiões ou culturas e não uma simples resistência à ocupação omitem que cerca 15% da população de Israel é constituída por cidadãos muçulmanos de origem palestiniana, que não andam propriamente para aí a fazer-se explodir em atentados suicidas, por mais simpatia que tenham com os palestinianos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. A violência palestiniana parte sobretudo das vítimas da violência diária israelita: os palestinianos dos territórios ocupados.
Posted by: Olifante | 2004.03.25 at 02:40