Acabei há pouco de ver uma reportagem que me deixou incomodado. No telejornal da TVI foi apresentada uma reportagem intitulada "Filhos de um Deus Diferente" sobre uma escola islâmica portuguesa. A reportagem de Filipa Cerejo é infeliz a vários níveis, a começar pelo título. Num país em que a constituição defende a igualdade de todas as religiões, chamar filhos de um deus diferente aos muçulmanos portugueses é na melhor das hipóteses desadequado, e na pior, tendencioso. Este título salienta a diferença em vez de mostrar os pontos de encontro, ao arrepio dos muitos cristãos devotos que construíram o movimento ecuménico, que apresenta cristãos, judeus e muçulmanos como crentes de um mesmo Deus partilhado por ritos diferentes.
Outro elemento de mau gosto foi a música, sombria e inquietante, que serviu para enfatizar a diferença algo ameaçadora do que parecia ser uma escola religiosa como tantas outras, muçulmanas ou cristãs.
Ao longo da reportagem foram apresentadas entrevistas com vários alunos da escola. As entrevistas foram feitas em Português, e foi num Português fluente, correcto e perfeitamente inteligível que todos os alunos responderam. Sendo assim, fiquei perplexo com o facto de as respostas dos alunos serem legendadas. Parece-me difícil entender esta opção como outra coisa que não uma vontade deliberada de enviesar a reportagem e mostrar a escola como não-Portuguesa, e não simplesmente como uma opção de alguns cidadãos portugueses e residentes estrangeiros por um estilo de vida simplesmente diferente, mesmo que minoritário em Portugal.
Na página da TVI descobri o número de telefone desta televisão: 214 347 500. Ao ser atendido, pedi para fazer uma reclamação. Fui reencaminhado, e rapidamente fui atendido por Ana Paula Carlos do Departamento de Relações Públicas. Expliquei-lhe os factos que acabei de descrever e manifestei-lhe o meu desconforto, mas não me foi dada qualquer explicação razoável para o sucedido. O máximo que me foi dito foi que por vezes certos programas eram legendados para o benefício dos espectadores deficientes auditivos; retorqui que tal seria uma excelente explicação, não fora o facto de apenas as entrevistas serem legendadas, e não a reportagem toda (para já não falar do telejornal todo). Quanto à minha queixa, foi-me dito que seria reencaminhada para a administração, mas rapidamente percebi que não havia qualquer forma de acompanhar o desenvolvimento da mesma. Ana Paula Carlos disse-me que não são atribuídos números às reclamações por telefone, e explicou-me também que não podia deixar o meu contacto para me serem dadas eventuais explicações sobre a opção pela legendagem. Apenas as reclamações por escrito têm direito a resposta.
Sendo assim, proponho a todos que se sintam incomodados por esta reportagem que manifestem o seu desagrado por escrito para:
Departamento de Relações Públicas
TVI, Televisão Independente, S.A.
Rua Mário Castelhano, 40
Queluz de Baixo
2734-502 Barcarena
Portugal
Tel.: +351 21 434 75 00
Fax: +351 21 434 76 54
Podem ainda contactar a coordenadora desta reportagem, Ana Leal, através do seguinte endereço: amleal arroba tvi ponto pt.
Não vi a reportagem, mas tenho medo, muito medo.
Gostaria de vê-la e caso ache necessario, sou mesmo capaz de fazer uma reclamação por escrito.
Bom blog!
A.
Posted by: Antonio Oliveira e Silva | 2006.05.10 at 16:11