Olifante's Lair

Python = $$$?

Pythonistas do it better? - o pythonista finlandês Jarno Virtanen tem um link para o Levantamento Salarial de 2003 da Software Development Magazine (registo obrigatório mas gratuito), que parece indicar que os programadores de Python têm o salário médio mais elevado (ex-aequo com a categoria Biztalk/Crossworlds/business integration) de todas as tecnologias consideradas:

Average Staff Salary by Languages Used:
$75K Delphi/Object Pascal
$76K Visual Basic
$77K Cobol
$78K Oracle/SQL Server/Sybase/database
$78K .NET
$80K EDI
$80K SAP/PeopleSoft/Oracle/ERP
$80K C#
$81K LotusNotes/groupware
$81K Perl/Javascript/PHP/scripting
$81K XML
$82K Java
$82K C++
$82K JavaBeans/ActiveX/component
$83K Fortran
$83K C
$84K UML
$84K Ada
$84K J2EE
$84K CORBA/COM/middleware
$86K Python
$86K Biztalk/Crossworlds/business integration

É claro que este tipo de análises deve ser usado com cautela. No fim de contas, a maior parte dos programadores dominam várias das linguagens/tecnologias apresentadas - qual é o programador que não usa XML, UML, SQL e uma base de dados qualquer? Suponho que os números se referem à área de competência principal dos programadores analisados.

Mesmo levando em conta eventuais deficiências da metodologia utilizada neste levantamento, o facto de o Python aparecer muito à frente das outras linguagens de Programação Ágil (Perl/Javascript/PHP/scripting) deve querer dizer algo. Apesar de ocuparem o mesmo "nicho ecológico" do espaço de problemas, o Python tem mais "cachet", literalmente. No entanto, é preciso ter cuidado em não confundir correlação com causalidade: será que os programadores de Python ganham mais por usar esta linguagem, ou será que os programadores mais competentes, que normalmente ganham mais dinheiro, gravitam naturalmente para o Python?

Outro facto surpreendente é que quem trabalha em projectos de Software Livre ganha em média mais dinheiro:

Paradoxically, open-source or free-software projects are associated with high salaries for both staff and management.

É curioso ver ainda que tecnologias como o Fortran, Ada, C e C++, que há muito que deixaram de ser "buzzword compliant", ainda parecem ter salários elevados. Embora duvide muito que haja ainda muita saída para programadores de Fortran e Ada, os poucos que trabalham com estas linguagens devem conseguir garantir salários elevados, talvez devido à falta de programadores nestas áreas e ao facto de serem usados em domínios muito específicos: o Fortran é ainda relativamente usado no meio científico, e julgo que o Departamento de Defesa americano exige a utilização do Ada para a maioria dos projectos.

O facto de o UML aparecer bem cotado, apesar de não ser uma linguagem de programação "sensu stricto", reflecte talvez os salários mais elevados recebidos por Analistas e Arquitectos de software. Como era de esperar, o C# e o .Net são penalizados pela abundância de recursos qualificados nestas áreas. As tecnologias que claramente ultrapassaram o prazo de validade não surpreendem muito: Delphi/Object Pascal, Visual Basic e Cobol. Quem trabalha com estas tecnologias precisa rapidamente de passar a novas tecnologias. Que tal Python?

The Year of the Python?

Algumas novidades que ilustram a crescente implantação do Python no mundo da informática:

1. Há cerca de um mês, o CTO da Nokia anunciou que os telemóveis da série 60 baseados na plataforma 2.0 vão passar a ser programáveis em Python. Os modelos 66x0 e n-Gage já usam a plataforma 2.0, baseada no Sistema Operativo 7.0s da Symbian - cheira-me que vai entrar um 6600 na minha vida num futuro não muito distante ( a não ser que seja antes isto)

2. O Brendan Eich do Mozilla fez uma apresentação sobre os Futuros do Mozilla (navegar com o teclado) que entre outras coisas desvenda que vai ser possível desenvolver aplicações XUL usando Python.

[via DHTML & CSS Blog: Stylish Scripting do Simon Willison]

3. A ONLamp tem um artigo muito interessante do Gregory Trubetskoy intitulado Mod_python's PSP: Python Server Pages. Este artigo ilustra de forma muito compreensível como utilizar o PSP, uma nova funcionalidade do mod_python que permite escrever páginas que combinam HTML com Python a la PHP. Já sabemos que em geral isto é um mau modelo de desenvolvimento, já que mistura de forma irremediável a lógica com a apresentação, mas o Gregory mostra que é possível usar o PSP duma forma que permite mantê-los separados.

[via PHP Blog: Dynamically Typed do Harry Fuecks]

Erros comuns em Python

O Mark Lutz, autor do excelente Learning Python e professor de Python, publicou um artigo no ONLamp.com sobre os erros mais frequentes dos programadores de Python.

Já cometi pelo menos um dos erros mencionados mais do que uma vez:

Imports Only Work the First Time:
You can run a file by importing it at the interactive prompt, but this only works once per session; subsequent imports simply return the already-loaded module. To force Python to reload and rerun a file's code, call the reload(module) function instead. And while you're at it, be sure to use parentheses for reload, but not import.

Igualmente importante:

reload doesn't impact names copied with from: reload works much better with the import statement. If you use from statements, remember to rerun the from after the reload, or you'll still have old names.

Python em Português

O PythonBrasil é um wiki brasileiro dedicado à linguagem de programação Python. Este wiki contém algumas introduções a Python em Português, bem como apontadores para mais material em Português e Inglês.

Porquê Python?

A minha linguagem de programação de eleição desde 2000 é o Python, uma linguagem de programação interpretada e orientada por objectos, com tipagem forte dinâmica e gestão automática de memória. O Python foi criado em 1991 por Guido van Rossum e está disponível gratuitamente para todas as plataformas populares sob uma licença Open Source muito liberal.

A grande vantagem do Python em relação a linguagens mais conhecidas e utilizadas, como o C, C++, C# e Java, reside na sua expressividade: a transformação das ideias em código é muito mais imediata e resulta em código compacto mas legível. Pode dizer-se que o Python é uma linguagem de programação que tem como prioridade maximizar a produtividade do programador, e não a performance do programa.

O factor que mais contribui para a expressividade do Python consiste na chamada tipagem dinâmica das variáveis. O Python é uma linguagem com tipagem forte - todo o objecto tem um tipo bem definido e imutável. No entanto, as variáveis não têm qualquer noção de tipo, funcionando como meras etiquetas que podem ser pendurados ora num objecto dum tipo, ora num objecto de outro. Isto significa que em Python não é necessário declarar o tipo de uma variável antes de a poder usar, o que contribui para a percepção do Python como uma linguagem menos burocrática do que linguagens como o Java ou o C#.

Outro elemento que contribui para esta expressividade é a inclusão no núcleo da linguagem de duas estruturas de dados extremamente flexíveis: a lista e o dicionário, conhecidos noutras linguagens como "array" e "associative array"/"hashmap", respectivamente. Os dicionários, listas e tuples (uma variante imutável da lista) são utilizados a todos os níveis da linguagem, e a sintaxe do Python inclui uma notação especial para estas estruturas que torna a sua utilização particularmente conveniente.

Para além de ser uma linguagem expressiva, o Python é também uma linguagem bastante legível, o que não é de espantar, dado que descende do ABC, uma linguagem desenhada expressamente com fins didáticos. O Python usa o nível de indentação no início de cada linha para definir blocos de código, dispensando a utilização de chavetas ou de outros indicadores de início e fim de bloco. A obrigatoriedade da indentação estabelece um patamar mínimo de legibilidade que noutras linguagens tem de ser implementado ou através de uma convenção implementada com disciplina férrea ou através da utilização de editores especializados. Alguns programadores reagem com veemência à utilização de indentação para definição de blocos - de gustibus non disputandum est. Para mim e para muitos outros a adaptação foi praticamente instantânea.

Houve ainda desde a sua concepção a preocupação de não sobrecarregar a sintaxe do Python com caracteres não alfabéticos, e os poucos que são usados são relativamente familiares ao olhar: os parenteses normais (), os parenteses rectos [], as chavetas {}, as aspas ", o apóstrofo ', os dois pontos, a vírgula e o ponto final. Os caracteres @&$! que são a assinatura visual de algumas outras linguagens de programação não têm significado especial em Python. Isto significa que o aspecto visual de uma linha de código Python é menos intimidatório para o leigo ou para o programador principiante. A sua legibilidade torna um programa escrito em Python mais num livro aberto do que num código para ser decifrado, facilitando a sua manutenção ou modificação.

Outra funcionalidade que reflecte a preocupação didática do Python é a existência de uma linha de comando que permite ao utilizador testar pedaços de código e até desenvolver interactivamente pequenos programas. A linha de comando permite inspeccionar os diferentes objectos manipulados pelos nossos programas, e torna a aprendizagem da linguagem muito mais acessível, permitindo testar o nosso código de forma interactiva.

Embora seja predominantemente uma linguagem imperativa, o Python pretende ser uma linguagem multi-paradigma (tal como o C++), possibilitando mas não forçando a programação orientada por objectos ou a programação funcional. Isto permite que o programador escolha o paradigma mais adequado à tarefa concreta, em vez de o forçar a usar sempre o mesmo paradigma para tudo, quer faça sentido quer não.

O carácter dinâmico e expressivo do Python torna-o numa linguagem particularmente indicada para a prototipagem rápida, para a exploração de ideias e o para desenvolvimento de aplicações com requisitos mal definidos ou mutáveis. Isto não quer dizer que o Python não possa ser utilizado para aplicações industriais - várias companhias, desde a HP e RedHat até à NASA, usam Python para aplicações críticas para o negócio, e há companhias como a Zope Corporation que baseiam toda a sua linha de produtos em Python.

Para quem quiser saber mais, recomendo a leitura do Programação Instantânea (tradução para Português do Instant Hacking) como introdução ligeira, ou o excelente tutório oficial, que juntamente com o resto da documentação oficial contém tudo que é necessário para começar a programar em Python.